segunda-feira, 14 de março de 2011

BIG BROTHER NAS EMPRESAS: FILMAGEM DE FUNCIONÁRIOS GERA POLÊMICA.

Filmagem já motivou até ações na Justiça


“Sorria! você está sendo filmado”. A saudação bem familiar está afixada na maioria das portas de lojas para informar aos clientes que seus passos dentro do estabelecimento serão vigiados. Mas há um detalhe implícito nesse monitoramento: os funcionários também são personagens desse filme, que pode ter como função exclusiva a segurança patrimonial ou pode, ainda, servir para fiscalizar o trabalho dos colaboradores.

Esse tipo de filmagem gera polêmica e já motivou até ações na Justiça. A última novidade é que o Tribunal Superior do Trabalho (TST) já considera que esse tipo de filmagem é legal, desde que os funcionários tenham conhecimento de que estão sendo filmados.

“Há um ano instalamos as quatro câmeras em pontos estratégicos e estamos com previsão de implantar mais duas. Ninguém reclama das câmeras, pelo contrário, o pessoal achou melhor porque traz mais segurança para todos os colaboradores”, conta Márcio Roberto Oliveira, assistente administrativo da Procter e Gamble.

Piadas

No começo, as brincadeiras foram inevitáveis. “O pessoal fazia piadinhas, dizia que estavam no Big Brother, mas pouco tempo depois perceberam que a câmera é uma coisa boa pra todo mundo. Se estamos monitorados, temos como identificar os problemas. Trabalhamos com o patrimônio da empresa e temos que zelar por ele”, diz Oliveira.
Instalado na parte externa e interna, nas áreas de recebimento e expedição da Procter e Gamble, os equipamentos são utilizados apenas para segurança. “Não temos preocupação de monitorar o que os funcionários estão fazendo, pois cada um sabe quais são suas atribuições. Na expedição, por exemplo, que tem uma câmera instalada bem em frente, oito pessoas trabalham e não fazem nenhuma queixa. Até brincam com a câmera, dão tchauzinho uns para os outros”, frisa Oliveira.

Prevenção de perdas

O gerente geral da rede de lojas A Gomes, Eládio Fernandez,  conta que também não tem problemas com a utilização das câmeras nas lojas. “Inicialmente, elas não são utilizadas com a finalidade de fiscalizar os funcionários, mas sim como ferramenta focada, exclusivamente, na segurança patrimonial”, informa.
Na opinião de Eládio Fernandez, os funcionários do grupo já estão acostumados a trabalhar com esse tipo de equipamento. “Nós não utilizamos a câmera de maneira invasiva e toda a loja é sinalizada para que todos saibam que estão sendo filmados”, garante.

Uso educativo aumenta receita

Enquanto muito se discute sobre a legalidade da implantação de circuitos fechados de TV (CFTV) nas empresas, o consultor em segurança patrimonial Alexandro Falcão aponta inúmeras vantagens e cita um caso de sucesso que utilizou esse tipo de equipamento para melhorar a produtividade de um supermercado em Salvador.
“As 64 câmeras atendiam à toda a operação da empresa. No horário certo, o gerente via pelo monitor qual era a situação de todas as gôndolas de determinado setor e, caso alguma estivesse vazia, de sua própria sala ele acionava o gerente da área para resolver o problema”, lembra.
O mesmo se aplicava quando havia filas nos caixas. “O gerente via pelo monitor e tomava providências para agilizar o atendimento. Com medidas tão simples, a empresa evitava perder a venda (e o faturamento!) e garantia a satisfação dos clientes.
Outro uso que ele observa é para melhorar a produtividade  dos colaboradores. “Quando o funcionário executava de forma errada algum procedimento, a gerência chamava essa pessoa em particular e mostrava a gravação, apontando o erro e mostrando a maneira correta para proceder”. Falcão destaca que, a princípio, os próprios gerentes não acreditavam muito que a instalação das câmeras  ajudaria o trabalho de alguma forma.
“Depois nós quebramos a resistência. Os próprios colaboradores começaram a pedir a instalação de câmeras onde ficavam guardados os pertences de cada um. Já os gerentes começaram a enxergar que o CFTV era uma excelente ferramenta gerencial que , inclusive, ajudou a empresa a maximizar o seu faturamento”, pontua.

Fim da privacidade dentro da empresa

Visão diferente tem a publicitária L.L., que passou por maus momentos em uma empresa onde trabalhou. “Os sócios estavam em guerra e, por isso, o presidente instalou câmeras em toda a empresa pra fiscalizar o que a gente fazia. Ele desconfiava de todo mundo e queria manter o controle. O pior é que ninguém foi comunicado e o clima ficou péssimo pra todo mundo”, relata.
L.L. conta que as câmeras gravavam até as conversas dos funcionários e, constantemente, os gestores utilizavam os equipamentos para controlar os horários dos trabalhadores. “Eu me sentia invadida, pois tudo o que fazia era comentado depois. O presidente sabia de tudo o que acontecia dentro da minha sala”, desabafa.

Disciplina

Na opinião de Margarida Silva, consultora da Máxxima Gestão de Carreiras, é a cultura da empresa que vai fazer a diferença no resultado, e não a simples instalação das câmeras. “Na nossa vivência a gente percebe que tudo depende de como a empresa coloca esse tipo de sistema”, comenta.
De acordo com ela, os funcionários mais aplicados não devem temer essa ferramenta. “É apenas uma forma de disciplinar a postura dos profissionais de acordo com a visão da empresa. Quem tem mais dificuldade para seguir regras vai se sentir mais desconfortável, mas quem trabalha direito não tem o que temer”, acredita.
Margarida observa que , a princípio, a instalação de câmeras pode provocar desconforto entre os trabalhadores, gerando até queda na produtividade. “ Mas em pouco tempo as pessoas se acostumam”, diz.

Decisão do TST ainda divide

A decisão do Tribunal Superior do Trabalho (TST) considera que o uso regular de câmeras para monitoramento dos funcionários é legal, desde que os trabalhadores saibam que estão sendo monitorados. Para ser regular, entretanto, as câmeras devem estar localizadas apenas no local efetivo de trabalho. Banheiros e refeitórios não podem ser monitorados, segundo o TST.
Apesar da decisão favorável do Tribunal Superior do Trabalho à utilização das câmeras, a polêmica sobre a legalidade da filmagem dentro das empresas continua.
 “Esta decisão ainda vai dar panos pra manga, pois não há uniformidade desse pensamento no meio jurídico. Não podemos dizer se esta é uma decisão que será acompanhada pelos demais membros do Tribunal”, observa Jorge Teixeira, advogado especialista em Direito Trabalhista.
Teixeira observa que alguns juízes ainda consideram a filmagem como uma violação ao direito individual do trabalhador. “Se o juiz considerar que isso fere a dignidade do trabalhador pode até ser pleiteada indenização por danos morais”, destaca.

Fonte: Correio 24 horas (07/02/2011)
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